sexta-feira, 17 de agosto de 2018

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E se o craque do seu time dissesse que é gay? Conheça 'O outro lado da bola', HQ sobre homofobia no futebol

'A gente é mais homofóbico do que a gente pensa. E o futebol serve como um amplificador desses comportamentos', conta um dos autores, Alê Braga, ao G1.

Por Cesar Soto, G1
 
O que aconteceria se o maior craque de um grande time de futebol atual no Brasil anunciasse que é gay? Segundo a história em quadrinhos “O outro lado da bola” (Record), o país não reagiria tão bem, e a revelação poderia abalar diversos setores da sociedade muito além do esporte.
Escrita pelos roteiristas Alê Braga e Alvaro Campos, e ilustrada por Jean Diaz, a HQ narra todos os desdobramentos a partir do momento em que Cris, grande astro do fictício Alvinegro Paulista, anuncia que é gay em rede nacional, abalado pela morte violenta de seu namorado.
Na história, não demora para que as repercussões ultrapassem os limites do estádio e até do clube. Torcidas organizadas, patrocinadores, deputados e até organizações religiosas têm algo a dizer sobre o assunto na obra.
“A gente é mais homofóbico do que a gente pensa. E o futebol serve como um amplificador desses comportamentos. É como um salvo-conduto para fazer vários absurdos”, conta o são-paulino Braga ao G1.
Para ele, não há como contar essa história sem envolver todas essas áreas delicadas. “Futebol, religião e política são áreas em que há umas certa permissão para mostrar coisas que em outros lugares não são aceitas.”
Campos teve a ideia da história durante uma conversa com jornalistas esportivos, sobre um jogador não identificado que poderia divulgar sua homossexualidade. Ao longo dos anos, durante a pesquisa para o livro, ficou claro que não tinha como ficar limitado ao que acontece apenas nos gramados.
“A gente chama de destampe. Abrimos uma tampinha e tinha um monte de coisa lá dentro, como os casos de pedofilia nas categorias de base.”
A pesquisa também envolveu conversas diretamente com jogadores profissionais, sob a promessa de que nenhum nome fosse revelado. “A gente foi batendo um papo, mas era difícil, porque é um tema muito tabu para eles”, conta Braga.
“Todo mundo com quem a gente conversou tinha histórias de um amigo, nunca era deles. No mundo do futebol todo mundo tem esse amigo.”

Sem apontar o dedo

Tanto Braga quanto Campos têm experiências no cinema, então a escolha por quadrinhos para conta a história de Cris misturou lógica com emoção. Além de amar HQs, os dois acreditam que se tratava do melhor veículo para fazer o público geral refletir sem soar professoral.
“A HQ conta de uma forma leve, mais acessível, menos agressiva. Os quadrinhos não apontam o dedo na cara da pessoa”, diz o botafoguense Campos.
Para ele, a história de “O outro lado da bola” deve acontecer a qualquer momento, já que “70% do que contamos ali é baseado em fatos”. A grande diferença será na circunstância.
“Se acontecer no mundo real, e vai acontecer, será com algum grande atleta que vai se planejar, será melhor assessorado para facilitar a aceitação do público. Não vai fazer de supetão, que serviu para aumentar a dramaticidade da nossa ficção.”
Mesmo assim, o projeto pode virar filme ou série em breve. Braga conta que já escreveram muita coisa além da HQ, e que estão em negociações para levar a história para algum formato de tela.

“Não é possível falar ‘aguarde que a série tá chegando’. Ainda não. Mas realmente temos dedicado um bom tempo.”


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