Os dados, obtidos com exclusividade pela BBC News Brasil, mostram que durante os 21 dias que separaram as duas votações, as denúncias com teor de xenofobia cresceram 2.369,5%, de apologia e incitação a crimes contra a vida, 630,52%, de neonazismo, 548,4%, de homofobia, 350,2%, de racismo, 218,2%, e de intolerância religiosa, 145,13%.
O número total de denúncias mais que dobrou em relação ao pleito de 2014: passou de 14.653 para 39.316 neste ano.
Segundo o Ministério Público Federal, é crime postar na internet, em qualquer plataforma, mensagens que incitem a prática de crimes, "pregando a violência ou o extermínio de grupos e minorias, ou divulgando mensagens de cunho racista".
A SaferNet, que atua desde 2006 na promoção e defesa dos direitos humanos na internet, recebe de maneira anônima e por meio de uma plataforma digital denúncias de atividades cibernéticas que violem esses princípios
A ONG atua em cooperação com o Ministério Público Federal, e a tipificação desses crimes é feita de acordo com o que está no Código Penal e na legislação brasileira.
O salto no número de denúncias de crimes de xenofobia no segundo turno ocorreu, segundo a ONG, principalmente por causa do resultado do primeiro turno das eleições, quando o peso dos votos do Nordeste, em sua maioria pró-Fernando Haddad (PT), fez com que Jair Bolsonaro (PSL) não fosse eleito já naquele dia.
Após o resultado, as redes sociais foram invadidas por comentários como "Nordestino não é gente", "Se o nordestino tivesse a cabeça redonda pensaria melhor" e "Vamos separar o Nordeste do resto do Brasil".
O site denuncie.org.br, que recebe as queixas, registrou 8.009 denúncias de xenofobia entre 7 e 28 de outubro, contra 338 entre 16 de agosto e 7 de outubro.
No mesmo período, as denúncias de apologia e incitação a crimes contra a vida (apologia a tortura, linchamentos, violência física, assassinato etc.) passaram de 1.746 para 11.009; as de homofobia/LGBTfobia, de 422 para 1.478; as de neonazismo (intolerância com base na ideologia nazista de superioridade), de 254 para 1.393; as de racismo, de 531 para 1.159, e as de intolerância religiosa, de 195, para 283.
A única categoria que apresentou uma leve queda no período foi a de violência ou discriminação contra as mulheres. Passou de 1.437 denúncias no primeiro turno para 1.232 no segundo turno, uma queda de 14,26%.
A maior parte do conteúdo denunciado por meio da plataforma da SaferNet estava no Facebook. Entre 16 de agosto e 28 de outubro, 13.592 denúncias foram feitas tendo URLs (os endereços) da rede social. Em segundo lugar vem o Twitter, com 1.509, seguido de Instagram, com 1.088, e do YouTube, com 400.
O Ministério Público Federal tem acesso a todas as denúncias feitas na plataforma da ONG, e a partir desse banco de dados faz suas investigações.
Para o presidente da SaferNet, Thiago Tavares, o aumento na quantidade de denúncias de discurso de ódio reflete a polarização política do País.
"A internet é caixa de ressonância da sociedade. Essas eleições foram muito polarizadas, e isso se refletiu nas redes sociais", diz Tavares à BBC News Brasil.
Segundo ele, o crescimento de denúncias das eleições de 2014 para 2018 também se deve à "produção e difusão em escala industrial de conteúdos enganosos criados para incentivar o ódio, o preconceito e a discriminação".
Para Tavares, a alta circulação de notícias falsas contribuiu para esse aumento do discurso de ódio online.
"Boa parte das fake news tinham alvos claros: mulheres, negros, pessoas LGBT. Então, não surpreendeu que esses grupos fossem vítimas desses ataques", fala.
De acordo com o representante da ONG, houve mais ataques a mulheres no primeiro turno, principalmente por causa do movimento #EleNão - na ocasião, milhares de mulheres foram às ruas pedir para que não se votasse em Jair Bolsonaro, hoje presente eleito, acusando-o de ser misógino e homofóbico, o que ele nega.
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